A nova edição da pesquisa anual da Deloitte, que entrevistou mais de 23 mil pessoas em 44 países, traz luz ao que essas gerações pensam sobre temas como o impacto da inteligência artificial no trabalho, como lidar com as finanças e se manter competitivo em um ambiente em constante mudança.
O relatório revela uma geração que questiona a IA, a ambição tradicional, as universidades e muito mais. A seguir, veja as descobertas mais relevantes do estudo:
IA: apostando com cautela
A Deloitte descobriu que mais de seis em cada dez jovens profissionais temem que a IA elimine empregos. Por isso, estão em busca de funções “à prova de IA”.
“A Geração Z e os Millennials estão refletindo de forma pragmática sobre o futuro do trabalho”, afirma Elizabeth Faber, diretora global de pessoas e propósito da Deloitte. “Embora, em geral, estejam otimistas quanto ao potencial da IA generativa para melhorar a qualidade do trabalho, mais de dois terços estão tomando atitudes concretas para proteger suas trajetórias profissionais.” Isso inclui buscar cargos que consideram menos suscetíveis à automação.
Enquanto esses profissionais adotam uma postura cautelosa em relação à IA, as empresas devem ficar atentas. “Há uma necessidade urgente de as organizações comunicarem com clareza como a IA generativa vai transformar – e não substituir – funções”, diz Faber. Segundo a executiva, as empresas também precisam investir em requalificação e desenvolvimento de profissionais. “Incluindo não só treinamentos técnicos, mas também habilidades interpessoais como empatia, adaptabilidade e liderança, que permanecerão relevantes à medida que a tecnologia evolui.”
Habilidades interpessoais como protagonistas
Essas habilidades socioemocionais e interpessoais, as chamadas soft skills, são a moeda do futuro do trabalho – e os jovens já perceberam isso. Hoje, mais de 80% da Geração Z e dos Millennials acreditam que essas competências são mais importantes para o crescimento na carreira do que as habilidades técnicas.
Ela destaca que essas gerações estão se preparando para trabalhar em parceria com a IA, não para competir com ela. “As soft skills são a ponte entre humanos e máquinas, ajudando a resolver problemas complexos, colaborar com equipes diversas e liderar com autenticidade em contextos cada vez mais dinâmicos.”
Mentoria, por favor
Segundo a Deloitte, cerca de metade dos jovens profissionais deseja ser mentorada por seus gestores, mas apenas 36% afirmam que isso acontece. Um levantamento recente da Seismic, empresa de tecnologia de vendas, apontou que 79% dos profissionais da Geração Z buscarão ativamente outro emprego se não tiverem acesso a oportunidades de aprendizado e desenvolvimento em sua posição atual.
“Existe hoje uma lacuna significativa de mentoria nas empresas”, diz Faber. “Os jovens querem mais do que supervisão: eles buscam orientação, inspiração e aconselhamento. Mas muitos líderes se sentem sobrecarregados e despreparados para lidar com os aspectos humanos de suas funções, segundo o relatório de Tendências Globais de Capital Humano da Deloitte para 2025.”
Empresas que não fecharem essa lacuna correm o risco de perder talentos – especialmente entre a Geração Z e os Millennials, que levam em conta aprendizado e desenvolvimento ao tomar decisões de carreira.
Cargos de liderança? Acho que não
Apenas 6% desses profissionais afirmam que seu principal objetivo profissional é alcançar um cargo de liderança sênior.
Isso quer dizer que eles não são ambiciosos? Para Faber, não exatamente. “Não se trata de falta de ambição; o que está mudando é a definição de sucesso”, explica. “Muitos estão priorizando oportunidades de aprendizado, bem-estar mental e equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, em vez de simplesmente subir na hierarquia corporativa.”
Propósito para atrair e reter talentos
Falando em propósito, qual o papel dessa palavra da moda nas decisões de carreira dos mais jovens? A Deloitte descobriu que cerca de 9 em cada 10 integrantes da Geração Z (89%) e dos Millennials (92%) consideram um senso de propósito essencial para sua satisfação profissional e bem-estar.
Isso parece simples à primeira vista, mas há um detalhe importante: cada um define propósito de um jeito. “Para alguns, é fazer a diferença no mundo. Para outros, conquistar liberdade financeira, crescer ou ter tempo para contribuir fora do trabalho.”
Segurança financeira é prioridade
Além de propósito, os profissionais da Geração Z e os Millennials querem outra coisa no trabalho: estabilidade financeira. Quase metade dos jovens da Geração Z (48%) e dos Millennials (46%) está preocupada com sua situação financeira.
“Em comparação com o ano passado, cresceu significativamente o número de jovens que não se sentem financeiramente seguros”, diz Faber. “Essa ansiedade impacta desde o bem-estar mental até as escolhas profissionais, e até o quanto sentem que seu trabalho tem significado.”
Céticos em relação à faculdade
Um número crescente de jovens graduados da Geração Z sente que a IA tornou seus diplomas irrelevantes. Segundo a Deloitte, aproximadamente um quarto dos jovens profissionais acredita que a faculdade já não é prática nem alinhada com as demandas do mercado.
“O ensino superior continua sendo uma ferramenta poderosa, mas a Geração Z e os Millennials estão questionando se vale o investimento”, diz Faber. “Em resposta, muitos estão explorando caminhos alternativos, como cursos técnicos, formações profissionais ou programas de aprendizagem.”
Papel dos líderes
Diante de um 2025 encarado com ceticismo por parte da Geração Z e dos Millennials, a alta liderança precisa estar preparada para receber as demandas desses profissionais. “À medida que o ambiente de trabalho evolui, precisamos repensar o papel dos líderes – não apenas como impulsionadores de produtividade, mas como desenvolvedores de talentos e guardiões da cultura.”
Mesmo na era da IA, mudanças reais continuam passando pelo fator humano. “Investir em liderança empática em todas as etapas da carreira pode reduzir lacunas geracionais, fortalecer o senso de propósito e liberar o potencial de pessoas e empresas.”