Apesar da redução nas mortes violentas intencionais no Brasil em 2024, os feminicídios e as tentativas de feminicídio registraram crescimento e acenderam um alerta sobre a persistência da violência de gênero. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (24), o país teve 1.492 feminicídios no último ano, o maior número desde que a legislação passou a tipificar esse crime, em 2015. A alta foi de 0,7% em relação a 2023.
Além disso, as tentativas de feminicídio aumentaram 19%, totalizando 3.870 vítimas. O crescimento desse tipo de violência ocorre mesmo após a promulgação da Lei nº 14.994/2024, que transformou o feminicídio em crime autônomo no Código Penal. Em média, quatro mulheres foram assassinadas por dia no Brasil em 2024 por motivação de gênero. O dado é ainda mais preocupante diante da queda de 6,4% nos homicídios dolosos de mulheres no mesmo período, o que reforça a especificidade e a gravidade do feminicídio. No total, 3.700 mulheres foram vítimas de mortes violentas no país em 2024.
O perfil das mulheres mortas por feminicídio revela padrões já consolidados nos últimos anos: a maioria era negra (63,6%), jovem (70,5% tinham entre 18 e 44 anos) e foi morta dentro da própria casa (64,3%). Em 80% dos casos, o autor do crime era o companheiro ou ex-companheiro da vítima, e 48,4% dos assassinatos foram cometidos com arma branca, como facas. “Esses dados mostram o caráter íntimo e interpessoal da violência, muitas vezes praticada por quem a vítima conhecia e dentro do ambiente doméstico”, aponta o relatório.
Outro recorde foi registrado no número de estupros: 87.545 vítimas, o maior patamar da série histórica. Três em cada quatro vítimas tinham até 14 anos. A alta em relação ao ano anterior foi de quase 1%, mas representa um crescimento de 100% desde 2011. Além disso, outros crimes sexuais também cresceram em 2024: assédio sexual (+7%), importunação sexual (+5%) e pornografia infantil (+13%).