ALTERAÇÕES CEREBRAIS

Saber reclamar pode mudar seu cérebro e sua vida

Você já deve ter vivido uma situação como essa: você encontra um amigo ou conhecido e, ao perguntar como vai a vida, tudo o que ouve é uma lista infinita de queixas. Em um mundo repleto de desafios (trânsito, poluição, inflação, clima), de fato, há muitos motivos para expressarmos nossas insatisfações.

Mas aqui vai um segredo: reclamar não é algo necessariamente ruim. Quando expressamos nosso descontentamento ou aborrecimento com algo, estamos, em realidade, marcando uma posição e mostrando os nossos limites e as nossas reivindicações – e isso é bom, é um ato de empoderamento.

Essa postura pode até ser uma maneira de nos conectarmos. É comum vermos isso em filas de show, cinema ou de um restaurante: basta alguém expressar a sua insatisfação, por exemplo, com o tempo de espera, para que um terceiro ou terceiros puxem papo. A reação quase sempre é de um senso de comunidade, de que ‘todos estão no mesmo barco’.

Mais do que isso, desde que as redes sociais nos permitiram expressar publicamente a decepção com serviços e produtos, as empresas foram forçadas a ser mais cuidadosas com suas entregas, o que reafirma a ideia de uma queixa pontual tem seu valor.

No entanto, independentemente das razões para reclamar de algo, é preciso estar atento para que esse comportamento não se torne um veneno para você mesmo e para quem vive ao seu redor. Esse, aliás, é o termômetro que todos deveriam ter: quando algo que fazemos passa a atrapalhar a nossa própria vida, talvez seja hora de revê-lo.

Incorporar o ‘Zangado’ da Branca de Neve pode, para algumas pessoas, se tornar fonte de prazer distorcido, fazendo com que as queixas se tornem tão constantes que, ao fim e ao cabo, não promovem mudanças reais. É como quando alguém entra em um lugar e grita “fogo!”; todo mundo toma uma atitude para responder a isso. Mas se uma pessoa passa a gritar “fogo!” o tempo todo, ninguém mais sai do lugar – a credibilidade se esvai.

Queixas frequentes também acabam por alterar a maneira como muita gente percebe o mundo – é como se o reclamante vestisse um óculos que só o fizesse ver as coisas a partir das lentes da negatividade. O resultado? O círculo social dessa pessoa pode começar a sentir desprazer em conviver com ela. E isso tem impacto enorme na saúde mental: nos tornamos mais irritadiços, mais estressados e ansiosos, além de aumentarem as chances de passarmos a ver os problemas maiores do que na realidade eles são e, em pessoas com alguma propensão, de desenvolver depressão.

E mais: alguns estudos também já mostraram que o hábito de reclamar pode promover alterações estruturais no cérebro que podem prejudicar a capacidade de resolução de problemas e até de tomada de decisões.
A boa notícia é que você pode quebrar esse ciclo. Escolha usar sua voz para reivindicar, mas também para solucionar, e não apenas lamentar. Foque naquilo que pode ser mudado e celebre as pequenas vitórias. Ao trocar a lente pela qual você vê o mundo, você não apenas melhora sua saúde mental, mas também transforma positivamente suas relações.

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