LOUREMBERGUE ALVES

O púlpito

 

Tem-se de tudo em ano político-eleitoral. Inexistem inocentes, ou bobos entre os agentes políticos, muito menos ingênuos. Embora haja, e há mesmo os mais e menos espertos. Espertalhões que se valem da legislação para ingressarem em outra agremiação, ainda que esteja do outro lado do expecto político antes ocupado, não porque esta se vê mais próxima da população, nem por conta de sua bandeira ideológica. Mas, isto sim, lhes possibilita maior espaço de visibilidade, recursos e, até por conta destes, grandes chances de continuarem nos cargos ou a conquistarem os tais cargos. Posam-se e se apresentam como “exemplos” de retidão, “gente de família”, tementes a Deus”. “Fé, comprometimento e honra”. Tripé que se ergue e se reforça “diante e com Deus”. Estratégia antiga, e bastante presente em todas as fases da vida político-eleitoral do país.

Repertório muito forte, com vistas à persuasão da imensa maioria do eleitorado. Até porque a palavra Deus é por si só bastante persuasiva. Ainda que existam, e sempre se teve quem desconfiassem de tamanha dedicação cristã. Afinal, Fernando Mendes já dizia em um trecho de uma de suas canções: “…não adianta ir à Igreja rezar e fazer tudo errado/Você quer a frente das coisas olhando de lado/O céu que te cobre não cobra a luz da manhã”. Esta é uma grande verdade. Verdade, contudo, não levada a sério pela imensa maioria da população, que prefere se deixar enganar, e sorri ao ser enganada, ainda que coelho algum se possa tirar do bornal dos políticos, a não ser a moeda com a qual pagam pelos votos a serem recebidos, e, no lugar de propostas, um rosário de promessas irrealizáveis. São verdadeiros atores, no sentido mais específico, no dizer do ex-presidente Jânio Quadros. Este, aliás, se apresentava ora desleixados, ora com caspas espalhadas pela camisa ou paletó, com vistas a parecer-se alguém comum. Lição copiada. Copiada de várias maneiras. Inclusive no se comportar. Comportamento, embora ensaiado, “vendido” como sendo “natural”, “espontâneo”. Atuação elogiável. Capaz de causar inveja ao mais preparado e premiado dos atores em pleno palco. Tanto que conquista votos. Votos que se multiplicam de eleição para eleição, igualmente se avoluma o comitê de torcedores.

Torcedores que brigam pelo político de estimação, e o defendem como se de fato, ele fosse verdadeiramente quem se faz passar. Voz entonada. Postura a altura. Segue a música. Mesmo que a população nada ganhe com essa atuação, contudo venha a repetir-lhe o velho refrão nas disputas em que participa, talvez, na crença despertada “pra vida, a sorte é irmã” – prossegue a canção – “pois toda sorte tem quem acredita nela”, embora “muitos esperam a sorte sentados, sem sair do lugar”. O ter ou não sorte nada tem a ver com a administração pública, coisa algum tem a ver com a gestão da coisa pública ou dos conflitos entre os desejantes. Estas gestões requerem capacidade, habilidade e planos de ações. Tripé que independe do ir ou não a Igreja, do papel que se possa desempenhar. Ainda que estes sejam, de fato, levados e muito em consideração. Isso não é de hoje. Tanto que, no passado, o confessionário foi usado para fins eleitorais, e, de uns tempos para cá, o púlpito passou a ser extensão do palanque de determinados políticos, com força de atrair muitos dividendos eleitorais. Tem até políticos-pastores, ou pastores-políticos, eventos igrejeiros, ou igrejeiros-evento voltado para atenderem certas vontades eleitorais. Seguem, assim, o bonde. Ou seria VLT. Ou, quem sabe, BRT. Oh!… Isso pouco importa. Importante é a conquista dos votos. Votos que podem manter ou levar outro ao poder de mando. Situação, porém, que não garante que o interesse público esteja no centro da mesa das decisões e das escolhas. Não está sendo agora, quando se pensa em nomes para a disputa, e não será com as posses dos vitoriosos, pois, sequer, qualquer projeto ou programa fora levado ao debate. Eis aqui o ponto. É isto.

Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.

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