POR ONOFRE RIBEIRO

É guerra mesmo!

Certos fatos expõem uma situação muito mais ampla e perigosa. A morte da filha do deputado estadual Gilberto Cattani foi um desses. A guerra criminosa que vem assolando a sociedade chegou no centro do poder ao assassinar a filha de um deputado. Mas é muito maior. Significa apenas que a situação está fora de controle.

Nasceu dentro dos presídios a formação de um Estado paralelo comandado pelo crime organizado. Claramente se viu que estava em andamento, mas a política aproveitou-se disso pra construir um discurso político. Nada de ações efetivas. As leis frouxas, cada vez mais frouxas, a burocracia estatal se aproveitando das brechas da lei e da inação pública. O resultado é um país absolutamente ingovernável.

Por azar dos azares, o atual governo federal firmou um vínculo eleitoral com os presídios e acenou com impunidades no correr da gestão. Vem cumprindo o compromisso com grande cuidado.

O resultado está nas ruas. A polícia guerreia todos os dias contra o crime e o crime guerreia conta a polícia todos os dias. O número de mortos é crescente e vai crescer muito mais, porque já não se disputa apenas o território físico para ao crime. Disputa-se negócios bilionários em todas as áreas: bancária, comercial, narcotráfico, roubos, tráfico de armas, tráfico e comercialização de drogas, roubo de carros e de cargas, de serviços, braços dentro do serviço público, braços dentro do poder judiciário, braços dentro do poder legislativo e braços dentro de todas as estruturas do serviço público. Tudo dominado. Mas tem os braços dentro da mídia ideológica. Redações complacentes.

Os serviços de transporte de todas as naturezas, as casas noturnas, a distribuição de bebidas na sua maioria hoje está nas mãos das facções do crime organizado. Juízes amedrontados ou cooptados, promotores simpatizantes, delegados cooptados, policiais, agentes penitenciários dentro de uma rede infinita de poder paralelo alimentando com seus serviços o poder do crime organizado.

Nas eleições municipais de 2024 o crime organizado tomará conta dos serviços municipais. Aí será o domínio total. As estruturas dos governos municipais, estaduais e federal acovardaram-se ou se beneficiam do medo coletivo e aproveitam juntos com o crime as grandes oportunidades políticas e financeiras.

Guerras se resolvem como se resolvem as guerras. Com armas do mesmo calibre dos dois lados. Não há clima  no Brasil pra uma guerra. Há muita gente ganhando dinheiro, prestígio, espaços e domínio político. Teremos 10 anos de domínio crescente do crime organizado. Até que pareça natural sermos comandados por gente de dentro das prisões e por seus comandados do lado de fora. Públicos e privados!

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

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