Hoje em dia, quase tudo está disponível em formato rápido e fragmentado, de receitas e dicas de cuidados com a pele a atualizações de notícias.
Você pode se pegar deslizando por reels, tocando em stories ou rolando feeds infinitos, muitas vezes sem nem perceber para onde seu tempo foi. Isso acontece com muitos de nós, porque é assim que o conteúdo está sendo projetado agora: rápido e impossível de ignorar.
Em 2024, “brain rot” (deterioração cerebral) foi nomeada a Palavra do Ano pela Oxford University Press. O termo foi popularizado pela Geração Z para descrever a névoa mental e o declínio cognitivo associados à rolagem infinita.
Especialistas agora alertam que esse hábito, frequentemente tratado como “só assistir a vídeos”, está realmente mudando a forma como nossos cérebros funcionam. Ele está diminuindo nossa capacidade de foco, enfraquecendo a memória e até mesmo prejudicando a tomada de decisões.
Esses alertas são sustentados por novas pesquisas publicadas na revista NeuroImage. Os pesquisadores realizaram um estudo para examinar os efeitos psicológicos e neurológicos do vício em vídeos curtos. Eles usaram uma combinação de análise comportamental, imagens cerebrais e modelos computacionais de tomada de decisão.
O estudo analisou como o consumo excessivo de vídeos curtos pode influenciar a forma como o cérebro processa recompensas, riscos e escolhas.
Com base nessa pesquisa, aqui estão duas maneiras pelas quais o vício em vídeos curtos muda o seu cérebro:
1. Reduz sua sensibilidade às consequências reais
Uma das formas pelas quais o vício em vídeos curtos afeta você é prejudicando sua aversão à perda — a tendência de sentir mais intensamente a dor de perder algo do que o prazer de ganhar algo de valor equivalente.
Na tomada de decisão, essa comparação funciona como um filtro protetor, que ajuda a evitar riscos. Ela faz você pensar duas vezes antes de tomar decisões que possam ter consequências negativas. No entanto, quando essa sensibilidade à perda é reduzida, há maior propensão a tomar decisões impulsivas ou arriscadas, sem considerar plenamente os efeitos.
No estudo da NeuroImage, os pesquisadores descobriram que pessoas com sintomas mais altos de vício em vídeos curtos apresentavam níveis mais baixos de aversão à perda.
Em outras palavras, quanto mais alguém estava viciado em vídeos curtos, menos sensível era às perdas potenciais. Isso afetava sua tomada de decisão, tornando-a mais impulsionada pela recompensa, mesmo quando os riscos eram altos.
Da próxima vez que você estiver preso no scroll infinito, pergunte-se: você está realmente disposto a treinar seu cérebro para correr atrás de recompensas à custa do bom senso?
2. Diminui a velocidade de processamento das informações
Outro efeito comum do “doomscrolling” ou do vício em vídeos curtos é a sensação crescente de névoa mental, dificuldade de concentração ou até dificuldade em tomar decisões simples sem pensar demais.
No estudo da NeuroImage, os pesquisadores mostraram que o vício em vídeos curtos pode literalmente desacelerar a forma como o cérebro processa informações. Eles utilizaram um modelo cognitivo chamado Modelo de Difusão de Deriva, que mede a velocidade com que o cérebro coleta e processa evidências antes de tomar uma decisão.
Quanto maior a “taxa de deriva”, mais rápidas e confiantes são as decisões. Uma taxa menor, por outro lado, significa raciocínio mais lento e mais esforço mental para chegar a conclusões, mesmo que simples.
Os pesquisadores constataram que pessoas com níveis mais altos de vício em vídeos curtos tinham taxas de deriva significativamente mais baixas, o que indica que seus cérebros acumulavam informações mais lentamente, tornando a tomada de decisões mais difícil e ineficiente.
Esse padrão também se refletiu na baixa atividade do precuneus, que também está envolvido no foco mental, reflexão e avaliação de opções. Quando essa área está pouco ativa, o cérebro processa informações de forma mais lenta. Até mesmo decisões simples se tornam mentalmente cansativas.