Nos últimos anos, o avanço da dermatologia estética e da medicina regenerativa trouxe inúmeros benefícios para quem busca rejuvenescimento, prevenção do envelhecimento e melhora da autoestima. No entanto, paralelamente ao progresso científico e tecnológico, surgiu um fenômeno preocupante: a endemonização facial, termo utilizado para descrever os efeitos indesejados do excesso de procedimentos estéticos, principalmente o uso indiscriminado de preenchedores, toxina botulínica e harmonizações faciais mal conduzidas.
A endemonização se caracteriza pela perda de naturalidade e de identidade do rosto. Muitas vezes, o paciente, na busca incessante por uma aparência jovem e “perfeita”, acaba ultrapassando os limites do bom senso estético e da proporção anatômica. O resultado pode ser um semblante artificial, desproporcional e, em alguns casos, até mesmo estigmatizado. Rugas exageradamente suavizadas, maçãs do rosto volumosas de forma desarmônica, lábios desproporcionais e ausência da mobilidade facial natural são algumas das marcas desse processo.
Essa condição não afeta apenas a aparência, mas também a saúde emocional. Muitas pessoas relatam queda na autoestima ao perceber que perderam sua identidade facial, além de sofrerem críticas sociais pelo aspecto artificial. A pressão das redes sociais e a busca por padrões de beleza inalcançáveis têm alimentado essa onda de exageros, levando pacientes a procurar procedimentos repetidamente, muitas vezes sem uma real indicação médica.
É importante destacar que a responsabilidade não é apenas do paciente, mas também dos profissionais que executam os tratamentos. O excesso, na maioria das vezes, ocorre quando não há uma conduta ética e criteriosa, e quando se busca agradar desejos imediatos sem pensar nas consequências a médio e longo prazo. O papel do dermatologista e do médico esteta deve ser o de guia e orientador, mostrando ao paciente os limites saudáveis da estética e prezando sempre pelo equilíbrio e pela naturalidade.
A prevenção da endemonização facial passa por uma prática médica mais consciente e individualizada. Hoje, cada vez mais fala-se em estética preventiva e sustentável, que valoriza cuidados progressivos, sutis e que respeitam a anatomia e a identidade de cada indivíduo. O futuro da estética está em protocolos menos invasivos, no uso de bioestimuladores de colágeno, terapias regenerativas como exossomos e polinucleotídeos, e na priorização da qualidade da pele em detrimento de alterações drásticas de volume.
A beleza verdadeira está na harmonia, e não no excesso. A endemonização facial deve servir como alerta para pacientes e profissionais: a estética deve ser uma aliada do bem-estar, e não um caminho para a perda da individualidade. O desafio da dermatologia estética moderna é oferecer rejuvenescimento com responsabilidade, mantendo a essência de cada rosto e garantindo que os avanços da ciência estejam sempre a serviço da saúde e da autoestima.