Setembro Amarelo reforça a importância de cuidar da saúde mental como caminho para a busca da felicidade e bem-estar integral. Mais do que prevenir o sofrimento, a campanha convida a sociedade a refletir sobre como hábitos saudáveis, ambientes acolhedores e o equilíbrio emocional contribuem para uma vida mais plena.
A especialista em Gestão de Saúde pela UFRJ e Ciência da Felicidade pela Universidade de Berkeley na Califórnia, Chrystina Barros, traz algumas respostas para maior compreensão.
Como a promoção da felicidade e do bem-estar emocional pode contribuir para a prevenção de doenças mentais e para a valorização da vida?
R: A felicidade, sob a ótica da ciência, mostra que ela não significa a ausência de problemas. Experimentamos a felicidade no dia a dia, mesmo enquanto lidamos com dificuldades. O que faz a grande diferença é o saldo emocional: é perceber que, apesar dos desafios, a vida vale a pena.
Para enxergar esse valor, precisamos exercitar a capacidade de superar os problemas cotidianos. Superá-los significa aprender com eles, celebrar quando conseguimos resolvê-los, mas, principalmente, fazer isso de forma solidária, junto com os outros.
É justamente o fortalecimento do senso de comunidade, das relações entre pessoas que compartilham um propósito comum, que torna os indivíduos mais fortes. Isso reduz os níveis de estresse e ansiedade, pois cada um sabe que não está sozinho, que pode contar com apoio para se realizar e se sentir conectado.
De que forma as políticas de gestão em saúde podem criar ambientes mais acolhedores e favoráveis à saúde mental nas comunidades e nas empresas?
R: Essa pergunta sobre políticas de gestão é muito importante, pois essas políticas são a base de tudo. Para cumprir seu papel, elas precisam ser claras, estar publicadas, ter publicidade e ser de conhecimento de todos.
Além disso, devem preconizar que o ambiente de trabalho ofereça condições seguras, tanto em relação ao design das atividades e ao espaço físico, quanto no que diz respeito à segurança psicológica. Não por acaso, temos a NR-1, considerada a norma-mãe de todas as normas de segurança, que foi reescrita justamente para incluir os riscos psicossociais.
As empresas precisam se atentar a todas essas variáveis que interferem no ambiente organizacional. Ambientes mais seguros e saudáveis tendem a gerar colaboradores mais engajados, comprometidos, produtivos, que prestam um serviço de mais qualidade, encantam os clientes e fortalecem a marca da empresa.
3 – Quais práticas e hábitos cotidianos as pessoas podem adotar para fortalecer sua resiliência emocional e buscar uma vida mais feliz e equilibrada?
R: Primeiro, é importante destacar a resiliência. Resiliência é a nossa capacidade de suportar pressões, vivenciar situações desafiadoras e, depois, termos um tempo para respirar, nos recompor e retomarmos nossa forma, voltando fortalecidos ao mesmo cenário.
Disciplina para manter um sono regular, para evitar levar o celular ao quarto e impedir que nossos olhos sejam estimulados por luzes no momento de dormir. A atividade física também é essencial para a manutenção de um corpo saudável.
Além disso, precisamos cultivar relações pessoais verdadeiras, ainda que por meio das redes sociais. Conexões sociais de qualidade, reais. É importante ter amigos que não concordem conosco o tempo todo, para que possamos debater o contraditório, ouvir críticas, aprender com elas e também saber como devolvê-las, sempre com gentileza, tanto com o outro quanto conosco.