É curioso como o acréscimo ou a retirada de determinada figura, em situações com o mesmo fundamento, tem julgamentos absolutamente diferentes, não só pela classe a qual pertence o faltoso, mas por toda a sociedade.
Em todos os sites cuiabanos está a declaração do ex-deputado Carlos Bezerra, pai do assassino e feminicida Carlinhos Bezerra, dizendo que o filho deve ter alguma “anomalia mental” e que está em depressão profunda na prisão, reforçando que está fazendo tudo o que pode para ajudá-lo.
Na semana do assassinato de sua ex-companheira, que não queria aceitá-lo novamente, e do namorado que acabara de conhecer, abatidos à tiros na calçada do prédio onde ela morava, um silêncio constrangedor por parte das autoridades, inclusive mulheres, foi se esvaziando aos poucos com declarações lamentosas, mas nem um pedido de pena de morte.
Fazendo o exercício proposto acima, vamos colocar o pai da assassina da Emily, menina grávida que foi assassinada para o roubo de sua bebê, fazendo o mesmo comentário feito por Carlos Bezerra.
“ela deve ter alguma anomalia mental, está em depressão profunda na prisão, mas estamos fazendo tudo para ajudá-la”. Essas palavras (anomalia mental) até se encaixariam melhor no segundo caso, pela crueldade envolvida.
Teríamos ou não reações diferentes da sociedade?
Mas, observe que se trataria do mesmo sentimento, estamos falando dos pais dos assassinos.
Carlinhos já esteve em prisão domiciliar, voltou para o presídio por descumprimento da medida, e desde então sua defesa luta em duas frentes, uma para adiar seu júri recorrendo a instâncias superiores, e outra para retorno a prisão domiciliar, em um raciocínio que, se ao ser julgado estiver em prisão domiciliar, poderá recorrer como tal até transitar em julgado a decisão do júri, que ninguém faz cálculo de quando seja.
Nos dois casos, Bezerra e Cristiane, por hora, tratamento igualitário somente por parte da justiça, os dois estão presos no aguardo de seus julgamentos.
Logo a justiça, que está sendo tão questionada em sua necessária imparcialidade.
Fazendo uma simples e rápida pesquisa na internet, encontraremos em quantidade razoável de pessoas presas por furto de carne, sabão, leite e outras bagatelas.
Você viu algum movimento para libertar essas pessoas? Alguém foi para as ruas pedindo que elas sejam liberadas, apesar do “crime”?
Em que tipo de justiça e imparcialidade estamos interessados, afinal?