IRRESPONSABILIDADE SEM FISCALIZAÇÃO

Um piparote na culpa

 

Inventada na China há mais de 2.500 anos, usada para fins militares como sinais e comandos a pelotões e exércitos distantes, posteriormente usada em atos religiosos, a pipa tornou-se um perigo pelo seu mau uso, causando, em números aproximados, 10 mortes por ano e 500 acidentes graves no Brasil.

Não são os inúmeros campeonatos e festivais de pipa espalhados nacionalmente que preocupam, são as brincadeiras de rua, feitas na sua maioria por crianças.

Durante o período de seca, especialmente entre julho e setembro, são registrados ventos na baixada cuiabana, justamente quando se observa uma intensificação na brincadeira, principalmente nos bairros.

Em Mato grosso existe lei que proíbe o uso do cerol desde 26 de março de 2008, quando foi sancionada pelo então governador Blairo Maggi, lei de autoria do deputado Walter Rabelo (falecido em dezembro de 2014).

É prevista aplicação de multa de 10 UPF’s e dois anos de reclusão, com multa em dobro no caso de reincidência, sendo o responsável a receber as punições em caso de o infrator ser civilmente incapaz.

As chamadas linhas “chilenas” tem venda proibida.

Em Mato Grosso não há registro de fiscalização, apreensão desses objetos e nem divulgação de pessoas responsabilizadas por mortes causadas por esses instrumentos.

Policias em rondas pelos bairros não são vistos descendo de viaturas para inspecionar as linhas de quem se diverte soltando pipas.

Sem fiscalização e punição, a lei tornou-se inócua, mesmo ocasionando mortes.

Se crianças estão usando, pais não estão fazendo a parte que lhes cabe.

Mas, para quem terceirizou a criação dos filhos para a escola, que prefere uma criança em silêncio no uso de celulares que verificar que conteúdo eles estão acessando, não vai ter tempo para verificar se a linha da pipa do seu filho está com cerol ou não, ou se o dinheiro que ele pediu foi para comprar no mercadinho da esquina a tal “chilena”, que é muito mais cortante.

Teria que ser um verdadeiro Sherlock Holmes para perceber a alegria no relato de uma criança que cortou a linha de outras pipas ou de aparecer em casa com outras pipas, exibindo como troféu.

A morte de Davi Almeida Franco, de nove anos, que teve a cabeça quase que separada do corpo por uma linha “chilena” neste domingo em Várzea Grande, tem tudo para não passar dos lamentos e classificação como tragédia.

A “arma” causadora dessa morte não encontrará dono.

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