Depois de um longo período de um relacionamento frio e distante entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de Mato Grosso Mauro Mendes, eis que tudo mudou. Vai e vem de ministros em visita ao estado, convênio com aporte de recurso, reunião no gabinete presidencial, e no campo ideológico nosso governador passa a defender o voto impresso, coisa que nunca havia mencionado. Não se espera que sejam vistos de mãos dadas, mas um na garupa de uma motocicleta de onde o outro lança tchauzinhos é bem provável.
Eis que surge uma coincidência, a suspeita de corrupção na compra de vacinas.
Deixando o problema federal com quem de direito, até por que por lá as coisas caminham do jeito que estamos vendo, vamos nos ater ao pecado local, apesar da tentação vir de um mesmo ganancioso.
Documentos expostos revelam que o policial Luiz Paulo Dominguetti ofertou ao governo de Mato Grosso lotes de vacina contra o covid-19. A proposta continha oferta de propina, explicitando valores a serem repassados ao comprador (governo de Mato Grosso), ao vendedor e ao intermediário. A tal proposta foi feita de maneira a não permitir que se confundisse com algo honesto.
Divulgação feita, corre-corre estabelecido na Assembleia Legislativa.
Oposição ouriçada propondo CPI ou envio da documentação à CPI do Senado Federal.
Base do governo, todos de pano na mão, dizendo não ser necessária nenhuma atitude já que a compra não foi efetuada e propina alguma foi paga.
Vamos ao cronograma das mensagens: Primeiro foi recebida proposta de venda com propina, a segunda mensagem foi do governo estadual solicitando documentação que comprovasse a representação oficial da empresa. Depois disso nenhuma mensagem mais foi enviada ou recebida.
Isso mesmo. A proposta de propina não chegou, sequer, a ruborizar nosso governo. Nem exposição à mídia nem encaminhamento ao Ministério Público para que adotasse medida condizente com a tentativa de corrupção; pelo contrário, a solicitação do documento comprobatório, a mim, soou mais como um; “É sério? Posso confiar em você?”
Antes de encaixar aqui uma citação de Mário Sérgio Cortela, aguardo explicações convincentes por parte de nosso governo estadual.
A citação em questão é: “A oportunidade não faz o ladrão, apenas o revela”.
Paulo Sá, jornalista e analista político