Um ano depois da morte de Isabele Ramos Guimarães, de 14 anos, por um tiro disparado pela amiga em um condomínio de luxo em Cuiabá, a mãe, Patrícia Guimarães, relata a dor que vem vivendo.
“Há mais ou menos duas semanas comecei a reviver um filme na minha cabeça. Foi um ano, mas que pra mim não passou. Tenho carregado a mesma dor, o mesmo sofrimento e a mesma tristeza. Um vazio na alma, da ausência dela”, relata.
Isabele Guimarães Ramos tinha 14 anos quando foi morta pela amiga, da mesma idade, com um tiro no rosto, no dia 12 de julho de 2020.
“Eu vivo com esse pensamento do que eu queria para minha filha, do momento em que ela iria para a faculdade, iria se casar, e eu estaria ao lado dela. Tem sido muito difícil. Uma mãe não enterra os sonhos que tem para os filhos”, afirma.
O caso, incialmente tratado como um acidente, passou a ser tratado como assassinato. A adolescente que disparou era atiradora esportiva, assim como toda a família dela, e disse à polícia que o disparo foi involuntário.
Para a Perícia Técnica do Estado (Politec) e para a Justiça a garota cometeu ato infracional análogo ao crime de homicídio doloso, quando há intenção ou assume o risco de matar.
Por determinação da Justiça, a menor foi internada na unidade de medida socioeducativa da capital mato-grossense. No dia 19 de julho, completam seis meses de internação, quando, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ela pode ter a medida reavaliada pela Justiça.
“Espero que ela fique lá o tempo máximo que a lei permite, que são os três anos, até porque eu penso que ela não tem consciência da gravidade do que fez”, diz.
Patrícia diz também que a família da menor insiste na versão do disparo involuntário.
“Eles terem tratado esse crime com tanta banalidade me faz pensar que a cada seis meses ela realmente tem que ser reavaliada e as condições para voltar a sociedade tem que ser bem pensadas”, afirma Patrícia.
A defesa da adolescente informou que aguarda a decisão do Superior Tribunal de Justiça sobre um pedido de soltura.
A mãe de Isabele também relata que a família da adolescente que atirou nunca entrou em contato com ela, apesar de antes do crime as meninas serem amigas.
“A família nunca veio até a mim. Pelo contrário: em uma das vezes em que fui até o local, me lembro que estacionei o carro perto da casa, porque estava muito triste. Eles chegaram a chamar a segurança do condomínio para me retirar dali, pois acharam que eu estava filmando. Não espero nada dessa família, só da Justiça”, diz Patrícia.
Patrícia afirma que, um ano depois, espera que a justiça seja cumprida totalmente.
“Ela foi cumprida de maneira parcial até agora, porque todos os envolvidos não pagaram pelo que fizeram. Continuo insistindo nisso, de que ela não agiu sozinha. Sabemos como as armas foram parar ali naquele dia. Sem dúvidas, os pais têm culpa, o garoto que levou a arma também”, defende.
O Ministério Público pediu a mudança da denúncia contra os pais da adolescente que disparou contra Isabele, de homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, para homicídio doloso. No entanto, ainda falta a Justiça decidir sobre o pedido.
Isabele teria hoje 15 anos. Um quarto novo, que seria um presente de aniversário, continua do jeito que ela planejou.
“Fica a saudade, aquela saudade que aperta, que dói e que faz a gente se encurvar. Aquela saudade que me faz pensar no meu filho hoje, nos momentos que temos, do que eu quero viver com ele ainda e do que eu não pude viver com Isabele”, relata.