OPINIÃO COM PAULO SÁ

Se fui Pobre Não Me Lembro

 

 

Um projeto de lei na assembleia legislativa de Mato Grosso tenta levar uma refeição a mais para os estudantes estaduais. Mais uma polêmica, mais um embate entre executivo e legislativo.
Acrescentando uma salsicha ao cachorro quente, faço algumas observações.
Concordo que ao não estabelecer um tempo de vigor, a lei torna obrigatória, daqui por diante, que essa nova refeição seja servida aos alunos, independente de qualquer outro fator. Estamos falando em uma despesa a mais sem trazer fonte de recursos. Não que não haja dinheiro para tal. O volume anunciado em obras com recursos próprios e anuncio de um novo empréstimo, são provas de que se houvesse vontade política, estaria feito.
Mas em suas últimas declarações o governador Mauro Mendes diz que não há condições de entregar lanches nas escolas e quem aprova engana a população.
Em um calculo rápido surge a pergunta: com só a metade dos alunos em sala de aula para onde estaria indo os cinquenta por cento restantes da verba destinados a alimentação escolar?
Em quanto durar o sistema hibrido seria, até justo, que se mantivesse o mesmo investimento na alimentação escolar. Portanto o dinheiro para o gasto não é extra, ele já existe.
É de conhecimento geral a importância das refeições nas escolas. Em muitos lares é a única alimentação que se receberá no dia.
O aluno que retorna agora a sala de aula não é o mesmo de março do ano passado, quando as aulas presenciais foram interrompidas. Ele tem agora mais fome. A pandemia fez a distancia entre as classes sociais aumentarem muito. Os lares pobres enfrentam hoje dificuldades muito maiores para garantir a segurança alimentar das famílias.
Uma fila para receber doação de ossos comove, mas a fome não.
Imagine essa situação: A mãe é lavadeira e o filho vendedor de picolés, frutas e verduras e também trabalha como engraxate para sobreviver. Será que essa segunda refeição faria diferença no dia a dia dessa criança?
Uma pena que quem teve essa infância como essa descrita acima e hoje tem o poder de, com uma simples assinatura, mudar não só o dia, mas o rumo de muitas vidas tenha esquecido suas origens, e mais, não consiga trocar de lugar com quem tem as mesmas dificuldades que ele teve na vida.
Aprendamos: Hora H é uma coisa, horário eleitoral é outra coisa.

Paulo Sá, jornalista e analista político