POR DIOGO DA TEZ

Reposição Hormonal e a Redução de Eventos Cardiovasculares em Mulheres: O Que Diz a Ciência

Durante décadas, a reposição hormonal na menopausa foi vista com cautela, especialmente quando se discutia o risco cardiovascular. No entanto, estudos mais recentes têm desmistificado esse tema e apontado um dado promissor: a terapia de reposição hormonal (TRH), quando bem indicada e iniciada precocemente, pode reduzir o risco de eventos cardiovasculares em mulheres menopausadas.

Mas afinal, por que essa mudança de perspectiva? E o que isso significa para a saúde da mulher a longo prazo?

O que acontece com o coração na menopausa?

A menopausa marca o fim da produção ovariana de estrogênio — um hormônio que, além de regular o ciclo menstrual, exerce importantes efeitos protetores sobre o sistema cardiovascular.

Com a queda do estrogênio, a mulher passa a ter maior risco de:

Aumento do colesterol LDL (o “ruim”)
Redução do HDL (o “bom”)
Rigidez arterial
Elevação da pressão arterial
Acúmulo de gordura visceral

Essas alterações favorecem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, hoje a principal causa de morte entre as mulheres após os 50 anos.

Reposição hormonal: de vilã a aliada

Durante muito tempo, a TRH foi temida por supostamente aumentar o risco de infartos e AVCs. Isso se deve, principalmente, à interpretação inicial dos dados do estudo WHI (Women’s Health Initiative), publicado nos anos 2000. Entretanto, análises posteriores mostraram que os riscos observados estavam associados a mulheres que iniciaram a TRH muitos anos após a menopausa, muitas vezes já com doenças cardiovasculares pré-existentes.

Estudos mais atuais mostram que, quando iniciada precocemente — até 10 anos após a menopausa ou antes dos 60 anos — a TRH pode, na verdade, reduzir o risco cardiovascular.

Evidências que sustentam essa mudança

O Estudo ELITE (Early versus Late InterventionTrial with Estradiol) demonstrou que mulheres que iniciaram TRH nos primeiros anos após a menopausa apresentaram redução da progressão da aterosclerose (placas de gordura nas artérias).
Revisões sistemáticas recentes confirmam que a TRH em mulheres jovens e saudáveis pode ter efeito cardioprotetor, principalmente quando feita com estrogênios transdérmicos (adesivo ou gel) e progesterona natural.
A posição da Sociedade Internacional de Menopausa (IMS) e da Sociedade Norte-Americana de Menopausa (NAMS) reforça: o momento do início da reposição é fundamental. Quanto mais cedo, mais seguro e benéfico é o uso.

Como a TRH atua na proteção cardiovascular

  • Melhora o perfil lipídico
  • Reduz a resistência à insulina
  • Aumenta a vasodilatação
  • Reduz a inflamação vascular
  • Preserva a elasticidade arterial

Esses efeitos, somados, contribuem para reduzir o risco de infartos, AVCs e outras complicações cardiovasculares em mulheres que fazem a reposição com orientação médica adequada.

Reposição hormonal é para todas?

Apesar dos benefícios, a TRH não é indicada para todas as mulheres. Ela deve ser evitada em casos de:

  •  Câncer de mama ativo ou histórico relevante
  •  Histórico de trombose sem causa identificada
  •  Doenças hepáticas graves
  •  Doença cardiovascular já instalada (dependendo da gravidade)

A avaliação deve ser individualizada e multidisciplinar, considerando o histórico clínico, exames laboratoriais e estilo de vida da paciente.

A reposição hormonal na mulher menopausada não deve mais ser vista como uma ameaça automática ao coração. Pelo contrário: quando bem indicada e iniciada no tempo certo, ela pode proteger o sistema cardiovascular e melhorar significativamente a qualidade de vida.

A mulher moderna vive em média até os 80 anos — ou seja, pode passar mais de 30 anos em pós-menopausa. Investir em estratégias preventivas, como a TRH, é essencial para que essa fase seja vivida com vitalidade, saúde e autonomia.

Se você está na menopausa ou se aproximando dela, converse com seu médico sobre a reposição hormonal e entenda se ela pode ser benéfica para você.

Diogo Tadeu Alves Corrêa é médico, atua na clínica Tez na área de estética há 18 anos

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