Durante décadas, a reposição hormonal na menopausa foi vista com cautela, especialmente quando se discutia o risco cardiovascular. No entanto, estudos mais recentes têm desmistificado esse tema e apontado um dado promissor: a terapia de reposição hormonal (TRH), quando bem indicada e iniciada precocemente, pode reduzir o risco de eventos cardiovasculares em mulheres menopausadas.
Mas afinal, por que essa mudança de perspectiva? E o que isso significa para a saúde da mulher a longo prazo?
O que acontece com o coração na menopausa?
A menopausa marca o fim da produção ovariana de estrogênio — um hormônio que, além de regular o ciclo menstrual, exerce importantes efeitos protetores sobre o sistema cardiovascular.
Com a queda do estrogênio, a mulher passa a ter maior risco de:
Essas alterações favorecem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, hoje a principal causa de morte entre as mulheres após os 50 anos.
Reposição hormonal: de vilã a aliada
Durante muito tempo, a TRH foi temida por supostamente aumentar o risco de infartos e AVCs. Isso se deve, principalmente, à interpretação inicial dos dados do estudo WHI (Women’s Health Initiative), publicado nos anos 2000. Entretanto, análises posteriores mostraram que os riscos observados estavam associados a mulheres que iniciaram a TRH muitos anos após a menopausa, muitas vezes já com doenças cardiovasculares pré-existentes.
Estudos mais atuais mostram que, quando iniciada precocemente — até 10 anos após a menopausa ou antes dos 60 anos — a TRH pode, na verdade, reduzir o risco cardiovascular.
Evidências que sustentam essa mudança
Como a TRH atua na proteção cardiovascular
- Melhora o perfil lipídico
- Reduz a resistência à insulina
- Aumenta a vasodilatação
- Reduz a inflamação vascular
- Preserva a elasticidade arterial
Esses efeitos, somados, contribuem para reduzir o risco de infartos, AVCs e outras complicações cardiovasculares em mulheres que fazem a reposição com orientação médica adequada.
Reposição hormonal é para todas?
Apesar dos benefícios, a TRH não é indicada para todas as mulheres. Ela deve ser evitada em casos de:
- Câncer de mama ativo ou histórico relevante
- Histórico de trombose sem causa identificada
- Doenças hepáticas graves
- Doença cardiovascular já instalada (dependendo da gravidade)
A avaliação deve ser individualizada e multidisciplinar, considerando o histórico clínico, exames laboratoriais e estilo de vida da paciente.
A reposição hormonal na mulher menopausada não deve mais ser vista como uma ameaça automática ao coração. Pelo contrário: quando bem indicada e iniciada no tempo certo, ela pode proteger o sistema cardiovascular e melhorar significativamente a qualidade de vida.
A mulher moderna vive em média até os 80 anos — ou seja, pode passar mais de 30 anos em pós-menopausa. Investir em estratégias preventivas, como a TRH, é essencial para que essa fase seja vivida com vitalidade, saúde e autonomia.
Se você está na menopausa ou se aproximando dela, converse com seu médico sobre a reposição hormonal e entenda se ela pode ser benéfica para você.
Diogo Tadeu Alves Corrêa é médico, atua na clínica Tez na área de estética há 18 anos