O tema fila do ossinho está rendendo. Depois da repercussão nacional da existência de uma fila onde pessoas com fome buscavam ossos doados por um generoso proprietário de um açougue, o assunto chegou ao “Bolacha x Biscoito” entre os palácios Alencastro e Paiaguás.
Depois de lamentar o fato o governador Mauro Mendes resolveu atacar a administração municipal por conta da existência da, agora famosa, fila. Citou seus programas sociais para população carente, dinheiro e cestas básicas distribuídas, inclusive em Cuiabá, e perguntou sobre as ações da prefeitura.
Por sua vez, o prefeito Emanuel Pinheiro, que já havia determinado a secretaria de assistência social do município que fizesse o levantamento das pessoas da fila, retruca o governador dizendo que o posicionamento do governador é uma falta de respeito às assistentes sociais, e cita suas ações em benefício dos pobres da capital.
A intenção aqui, é de mostrar ao “bolacha x biscoito” a rosca infinita do problema.
Começando pela idade da fila, mais de dez anos segundo o proprietário do açougue. Neste tempo o hoje governador foi prefeito de Cuiabá, e não tenho registro da ciência da existência ou ação para favorecer os necessitados da fila. Só o argumento que a fila era menor não pode ser aceito.
A fila da fome é infinitamente maior que a fila dos ossos. A falta diária de alimento não acabará após a fila ser zerada. Na verdade ela faz o papel de ponta de lança para o problema que vem crescendo de forma rápida e uniforme país a fora.
Enquanto políticos apontam dedos se esquivando de culpa ou responsabilidade sobre o combate ao problema, estamos, gradativamente, voltando a antigos patamares de miséria e pobreza extremas já vistas em nosso país.
Aos que pensam que a era dos salvadores da pátria já passou, que para os padrões atuais é impensável dar crédito a quem diga resolver todos os problemas de uma vez, fica a dica: Para quem tem fome os outros problemas de tão pequenos nem existem, e mais, a fome vota.
Paulo Sá, jornalista e analista político