GARI MATA EMPRESÁRIO

Não retirou o carro para o caminhão de lixo passar

Sim, o título desse material está complemente invertido. O caso aconteceu em Minas Gerais, ontem, onde um empresário matou um gari a tiro em uma discussão para que o caminhão que executava a tarefa de coletar o lixo e estava parado na rua, deixasse de interditar momentaneamente o trânsito.

A repercussão do absurdo está em toda a imprensa nacional, mas não chegou aos discursos políticos.

Ninguém pediu aumento de penas, fim de visitas íntimas, “saidinha” e prisão domiciliar.

Nenhum discurso inflamado em qualquer tribuna de qualquer parlamento.

Por quê?

Porque gari só existe quando ele não vem recolher o lixo das portas das casas.

Porque pobre morre toda hora.

Até os acidentes de trânsito tem uma lógica diferente, a depender de quem são os envolvidos.

Gari em serviço, atropelado e amputado por bebedeira do cidadão (ã) de bem, causa, quando muito, comoção.

Quando um carro velho, ou um caminhão de lixo, mata quem está em uma Mercedes, causa revolta, indignação, pedidos de punição com prisão imediata.

Existe um código mudo que parece reverberar em uma classe que já foi média e hoje se encontra subdividida, em várias faixas.

Esse código parece exigir dos mais pobres a mesma deferência, preferência e excepcionalidade com que o rico é tratado por quem retirou somente um dedinho, quando muito, um pé da pobreza.

Enfim, como disse Cícero: “O escravo não sonha por liberdade, mas em ter um escravo para si”.

Estamos em um momento que exigimos um comportamento das outras pessoas a ponto de acharmos que temos esse direito, mesmo que não queiramos agir como exigimos.

Seguimos, brigando pela veracidade do que nos contou o cego, que ouviu do surdo o que o mudo disse.

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