OPINIÃO COM PAULO SÁ

Manso, se não ventar.

 

Inaugurada em 1.999 a hidroelétrica de Manso veio com duplo propósito, aliás, o segundo propósito foi mais decisivo para seu término, lembrando que o inicio das obras se deu em 1988. A baixa produtividade e alto impacto ambiental foram os principais argumentos contrários a sua construção. A regulação do nível do rio Cuiabá, impedindo grandes cheias e secura extrema, foi o argumento aceito por todos.
Desde a retirada das 700 famílias atingidas na formação do lago aos dias de hoje, a região se transformou em polo de desenvolvimento imobiliário, trazendo turismo e lazer elitizado. Resorts, pousadas, condomínios brotaram as suas margens.
Mas o tema que quero abordar aqui é a navegação neste lago de 427 km².
Até a construção do lago, nossa navegação de um calado maior, a começar por lanchas, era possível somente no período de cheia, quando o comércio local organizava pequenos grupos para descerem o rio até Santo Antônio ou Barão de Melgaço. Com a chegada do lago de Manso tudo se transformou não vemos mais lanchas no rio Cuiabá.
No domingo, dia 18, ocorreu mais um acidente neste lago. Um barco virou e uma mulher morreu afogada, era seu primeiro dia de trabalho. Ela estava sem colete salva-vidas.
Se buscar na memória, vamos lembrar de vários acidentes por lá e de muitas vidas perdidas.
Buscando um motivo para essa frequência me deparei com uma diferença que pode determinar a condição para muitos dos casos ocorridos.
A condução de uma embarcação em rios e lagos é a mesma? As habilidades exigidas são as mesmas? Não.
Em dias normais, com ventos fracos, a pilotagem de um barco em um rio é até mais difícil que em um lago, por conta da correnteza que os lagos, normalmente, não apresentam.
Porém quando surgem os ventos a situação muda completamente. Quanto maior o lago, maiores as ondas. No Manso, dependendo da velocidade dos ventos ondas superiores a dois metros se formam rapidamente.
E agora temos o ponto principal. Supondo que todos os barcos sejam pilotados por pessoas habilitadas para tal, o que nem sempre é verdade, pergunto: O curso necessário para pilotagem de barcos em Mato Grosso inclui práticas de navegação com esse cenário? Ondas de dois metros?
A julgar pelo que temos testemunhado, não.
Com a palavra a Marinha do Brasil, que além destes esclarecimentos, deve informação abundante em todo o lago, de como proceder nestes casos. Seja em forma de aviso, nas mais diversas formas, aos frequentadores e moradores do entorno, como na preparação dos condutores de embarcações que por lá se aventuram.

Paulo Sá, jornalista e analista político