OPINIÃO COM PAULO SÁ

Grilagem, o pecado aceito

.É aguardado para hoje, 25 de agosto, o julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), do “marco temporal” que altera a proteção legal de terras indígenas no país.

O nó vem da promulgação da constituição, ao não trazer esse limite de tempo em que estaria proibida a ocupação de terras indígenas. O que se leva a julgamento agora, é , se quem já ocupava terras não só indígenas, mas as públicas também, antes da data de 05 de outubro de 1988, quando passamos a ter uma nova constituição, é atingido pelo texto atual onde existe o veto.
A depender do julgamento, poderemos ter alguns projetos parados na câmara federal, aprovados. Eles trazem restrição à demarcação e liberação de mineração em terras indígenas, flexibilização ou extinção de licenciamento ambiental de obras e empreendimentos e legalização de terras destinadas à reforma agrária e áreas consideras latifúndios.
Olhos ambientais do mundo grudados no Brasil acompanhando a decisão e a maioria dos brasileiros “nem aí”.
Esse dar de ombros para a questão tem origem. O brasileiro nunca se importou com a grilagem de terras. Isso para não dizer que o brasileiro sempre apoiou a ação.
Não é preciso sair do nosso estado para ter exemplos em quantidade. Não é novidade para ninguém que pequenos lotes doados pelo INCRA viraram milhares de hectares ocupados pela plantação de soja nos dias de hoje. Que as muitas mortes encomendadas por fazendeiros, resultado do chamado conflito agrário, ficaram impunes, e a sociedade silenciou mesmo tendo conhecimento do papel de cada um dos personagens no teatro da grilagem.
Por tanto a dedução fica fácil, mesmo com todos os avanços registrados, uma sociedade que não se importou com terra tomada de brancos vai se importar com terra tomada de índios?
Isso, entre outras coisas, prova que somos um povo, que por mais que falemos o contrário não somos contra a corrupção, somos contra o corrupto, dependendo de quem ele seja.
Antes de terminar, uma explicação. O que tem haver o inseto com o roubo de terras?
Para transformar uma posse recente em antiga se necessitava um documento que tivesse a aparência de ser tão velho quanto a data nele impressa. Para tal se colocava em uma caixa o documento com grilos. As fezes e urina dos insetos davam ao papel a aparência desejada.
Depois era só registrar em cartório. Ah os cartórios. Nada se fez sem eles.