De Cuiabá para o Mundo: Pessoas fazem fila para receber doação de ossinhos.
Esse assunto transitou com volume e rapidez na internet. Os principais sites brasileiros reproduziram. Componentes políticos foram anexados, tipo: No Estado com maior rebanho bovino nacional, pessoas comem ossos.
Imediatamente a Capital começa a se mobilizar, correntes formadas para doações, boas almas que mandam entregas, motoboy distribui frango na fila do ossinho, governador lamenta o fato etc. e tal.
Para o queixo dos surpreendidos chegar ao final do curso (cair de vez): Isso acontece há mais de dez anos!
Informo também que ossinhos são vendidos em praticamente todos os açougues, por um preço ao redor de 10 reais.
O que é que teria acontecido para, finalmente, pessoas carentes, sem dinheiro para consumir carne bovina fossem notadas e merecessem, enfim, um sentimento de solidariedade, pra não dizer piedade, da classe cuiabana abastada?
Talvez seja o poder da frase. “Pessoas comem ossos”. Não se pode negar que causa impacto.
Mas como é impossível que um sinta a dor do outro, arrisco em campo mais provável; não seria por que os preços da carne estão tão altos, e subindo dia a dia, que virou assunto de classes que antes não reclamavam? Se tem uma coisa que entendemos é sobre nossas dificuldades. Daí a notar esforços maiores que os nossos poderia ser um passo menor. Tomara que não.
Quem dera seja só o olhar com humanidade que finalmente despertou, a ponto de se perceber que irmãos vivem de restos desde sempre. Que temos que exercitar a capacidade de entender possibilidades menores que as que temos a nossa disposição, e a cegueira programada para retirar o “feio” de nossos dias, pode ser substituída por caridade.
Se ajudar, informo que além de ossinhos, vísceras bovinas também são doadas na mesma fila.
Paulo Sá, jornalista e analista político