OPINIÃO

Defunto recusou cova

O problema de falta de água em Várzea Grande passou a ser justificado pela durabilidade da desculpa. “Problema de décadas”, “Sempre foi assim”, “problema histórico”. E depois de lavada, torcida e enxaguada a desculpa parece ter sido jogada em um canto qualquer.

Na última campanha eleitoral a solução para esse “problema histórico” foi mais uma vez bandeira dos candidatos daquele pleito. O fato é que a administração anterior já tinha terreno assegurado e financiamento em tratativas. As promessas, se honestas, deveriam retratar a continuidade do trabalho já feito. Mas campanhas eleitorais não são muito dadas a observação de “pequenos” detalhes como esse.
Pois bem, justamente no ano em que se tem a promessa de solução desse grave problema várzea-grandense, a seca chegou mais cedo e com mais intensidade. O resultado foi que, além da periferia que em sua maioria é abastecida por poços artesianos, e já tem torneiras secas como certas; o município não conseguiu mesmo ritmo de trabalho e faltou água de forma geral, incluindo o centro da cidade que normalmente sofre menos a escassez de água. O Departamento de Agua e Esgoto (DAE) responsabilizou o rio que estaria baixo demais e por isso a captação teria diminuído. Isso, claro, sem levar em conta o fato de se conseguir ver, perfeitamente, a outra margem do mesmo rio e que abastece Cuiabá com o dobro de população, exatamente com o mesmo nível de água do lado várzea-grandense.

Um recém-chegado poderia perguntar, após o relatado, se já não era hora de a onça beber água. Mais surpreso ele ficaria ao saber que ao invés disso, o defunto recusou cova.

O prefeito de Cuiabá foi a gabinete do prefeito de Várzea Grande oferecer água ao município. O plano era reativar a estação de tratamento do porto e canalizar para o outro lado do rio, oque foi prontamente recusado. O prefeito Kalil viu um contrassenso em comprar água de Cuiabá para vencer a crise. Fico imaginando o trocadilho com a palavra (contrassenso), feito por quem está dias sem água. “Só se for contra o dele”.

Explicando a visão do alcaide; as obras para solução do desabastecimento de água no município irão demorar bem menos que as obras que seriam necessárias para se estabelecer o abastecimento por parte da cidade vizinha.

Para mim a recusa mostra o nível de confiança que o prefeito tem no término das obras e fim do problema. Em se confirmando, será uma data histórica para o município e de glórias repartidas entre essa e administração anterior.

Mas se algo der errado e no próximo período de seca a falta de água em Várzea Grande também retornar, é recomendável que determinadas autoridades municipais se aproximem de locais públicos de costas, assim se forem notados poderão se desculpar dizendo que na verdade já estão saindo