O jogo da política-eleitoral não se inicia no primeiro instante oficial da campanha eleitoral. Começa bem antes. Antes mesmo de se ter sobre a mesa os nomes dos atores das disputas. Ainda que um ou outro deles já seja sabido, e se sabe, quase sempre, em razão da possibilidade da reeleição, até porque, não raramente, o chefe do Executivo e a imensa maioria dos parlamentares se movimentam em busca de apoios para as disputas. Disputas cercadas de interesses, os quais nada têm a ver com os da coletividade. Embora se ouça e se lê que os interesses de alguns são, verdadeiramente, os de todos. Têm-se, aqui, as águas da ideologia, cuja força de suas ondas tenta esconder o que jamais se consegue esconder. Ainda que esteja disfarçada, com nova roupagem e um véu translúcido. Mas nem sempre o óbvio pode ser percebido por toda a população. População, ao menos em sua maioria, a mais necessitada pela assistência do Estado. Jogada de um lado para outro, tal como um barquinho a deriva, em meio ao redemoinho de águas, que nasce e cresce com o minuano das crises.
Sobressai-se, então, o populista de qualquer naipe. Não apenas o da esquerda, Tampouco somente o da direita. Sobressai-se, ainda que se esteja em uma área de grande profundidade, com as correntezas bravias a contornarem a enorme pedra da desesperança, porque vale, com maestria, da encenação e de palavreado que atraem pelo emocional. Não é o único a valer-se da força do emocional. Embora seja o mais preparado, e o faz como se fosse grande ator. Capaz de causar inveja ao mais tarimbado de quem tem na arte de encenar sua profissão, cujo desempenho arrebata e desperta emoção. O populista igualmente atrai atenção, conquista adeptos, e forma sua “igrejinha”, com sua constelação a gravitar em torno de si, ainda que desprovida de luz própria. Nem poderia tê-lo, pois os raios parecem sair de um único sol, nunca de sóis. Sol artificial, construído, talvez pelo malabarismo de pedrinhas sem qualquer comparação com brilhantes, nem diamantes, apesar dos artífices que o cercam, e o ajudam a bolar as frases, manifestos e gestos, cuidadosamente ensaiados. Repetidos por um mesmo fim. Fim, não no sentido de término, até por conta de seus objetivos bem particulares, talvez grupais, nem de longe assemelhados com os da coletividade. Embora haja, e há mesmo todo um trabalho para se parecer como tal. Então, ao jogar a rede no meio do rio, apreende os dividendos de que precisa. E, de posse dos tais dividendos, mantem-se em destaque, e continuam dando as cartas, sem ter que distribui-las todas, nem para quaisquer pessoas. Pois sempre guarda uma carta na maga, com a qual blefa, ameaça e tenta jogar os apoiadores contra quem se atreve a passar pelo seu caminho.
Durante o seu percurso, claro, distribui benefícios para uns e para outros, e estes e aqueles o retribuem com reverência e gratidão, transformadas em votos. Também, por isso, que a campanha se torna um enorme mercado, onde os candidatos são oferecidos como mercadorias. Ainda que não sejam, são transformadas em produtos de grande monta, ou não, dependendo dos profissionais do marketing, que se valem da ilusão e da embalagem. Embalagem bem montada, e torna-se maior, atrai o olhar distraído e apressado, que os compra, sem ter percebido que foi ludibriado, e, quando se percebe, já é tarde demais para desistir do adquirido. As garras já estão amostras. Nada mais resta a fazer. A não ser arrepender-se. Arrepende-se. Muitos evitam confessar ter-se arrependido, mas seus silêncios são frases prenhe de significados. Significados que podem resultar em outra escolha, e, mesmo assim, sem a garantia de que venham a acertar. Acertar ou errar faz parte das escolhas de quem se encontra à frente da urna eletrônica. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e estudioso do jogo político.