Ano político-eleitoral. Ano de eleições gerais. Partidos e candidatos buscam conquistar votos. Fazem todo tipo de malabarismos para conquistarem simpatizantes, prometem de um tudo e mais um pouco para terem os votos necessários as suas vitórias. Não apenas o malabarismo com as palavras. Só não fazem chover, nem frio, tampouco acabarem com o forte calor. Mas são bem capazes de prometer que farão estas intervenções, e para parecerem convincentes, sacam das cartolas, e fingem retirar coelhos dentro delas. Coelhos que, mais tarde, podem ser registrados em cartórios, com o fim de mostrarem que tudo é real, verdadeiro, até mesmo suas promessas, ainda que sejam impossíveis de realizações. Realizá-las ou não, pouco importa. Importante mesmo é fazê-las parecer reais, factíveis aos olhos dos eleitores, em especial aqueles mais desavisados ou torcedores, que se veem remetidos no jogo de Faz-de-conta. Ilusão. Magia. Nem dão conta de que os trens (da montanha-russa) há muito, já descarrilharam. Descem desgovernados. E não se estão em festivais folclóricos, tampouco em parques de diversões.
Ilusionismo, enquanto a situação gestada assusta, amedronta e preocupa, afinal, revela uma teia de crises – política, econômica, social e sanitária. Crises, infelizmente, não enfrentada como deveriam, pois os agentes políticos e públicos se mostram não hábeis para debelá-las. Embora venham a posar-se de capazes para tal. Mas entre o posar-se e o ser de fato tem uma distância bastante considerável. E, então, até por esta razão, forma um hiato gigantesco, uma cratera, um fosso, onde se encontra a imensa maioria da população, presa pelas correntes das dificuldades, as quais, sequer, podem ser rompidas, ainda que se queira, porém o crescimento que se tem da economia não ajuda. O desemprego é fruto disso. Não da pandemia, embora esta tenha agravado e muito o quadro econômico já capenga, com o crescente número do desemprego, e, consequentemente, da pobreza e da extrema pobreza, cujas entradas no programa de Auxílio Brasil (Bolsa Família) deveriam ser automáticas. Mas o trecho da lei que previa tais entradas foi vetado pelo presidente. Isto significa dizer que nem todos os inscritos serão efetivados, sobretudo por falta de “disponibilidade orçamentária”.
Nem sempre, contudo, a falta de recursos foi o impedimento, a exemplo dos investimentos que deveriam ter sido feitos na chamada Sala da Mulher – ligada ao Ministério da Mulher e dos direitos Humanos – que, em 2021, contava em caixa C$ 21 milhões, porém só foi aplicado apenas C$ 1 milhão. Baixo investimento em outros setores do Ministério, que levou o MPF a investigar a situação, embora se tenha como certo o que aconteceu de verdade, a incompetência. Incompetência que se alastra igualmente nas esferas estaduais, ainda que alguns cofres estejam abaratados de dinheiro. Dinheiro nos cofres, com governadores estufando o peito para dizer da alta arrecadação, porém delegacias sendo desativadas e prédios escolares carecendo de reformas. Reformas necessárias, porém não realizadas, ainda que tivessem oportunidades de fazê-las, pois as escolas ficaram um tempo sem o funcionamento normal em razão da pandemia. Prejuízo inestimável. Impacto maior para crianças mais pobres, sem que houvesse qualquer programa, tampouco recursos extras às escolas por parte da Secretária Exclusiva para a Alfabetização, ligada ao Ministério da Educação.
Para piorar, o preço da cesta básica de alimentos chega a comprometer, na média, 58,35% do salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto da Previdência Social (7,5%). Quadro complicado. Bem mais quando se depara com o crescente índice de feminicídios e o de assassinato de homossexuais, e este, mesmo alto, demoveu deputados estaduais mato-grossenses de seu pedestal, ou da bolha, onde fazem vistas grossas a questão, tanto que, por mais uma vez, arquivou o pedido de criação de um Conselho estadual, sob argumento estapafúrdio e anticristão, pois o ser cristão comporta-se de outro jeito, bastante diferente do que se viu no Parlamento, uma vez que o ser cristão tem a condição de também ver e enxergar o outro, sempre com os princípios que Cristo legou a humanidade. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.