Oito de março é consagrado como o Dia Internacional das Mulheres. É uma data dedicada a celebrar os avanços obtidos pelo gênero feminino ao longo dos anos e os desafios que se apresentam para o futuro. No caso específico da política e administração pública, vários espaços importantes vêm sendo conquistados. Basta lembrar que Janaina Riva foi a deputada estadual mais votada em 2022, acompanhada da Rosa Neide, que obteve a melhor votação para a Câmara dos Deputados. Temos ainda a Diretora Geral da Polícia Judiciária Civil, Defensora Geral, Superintendente da Polícia Federal e, não menos importante, a presidente do Tribunal de Justiça. É uma conjunção de fatores nunca vista antes em Mato Grosso.
A quota de candidaturas trouxe uma importante contribuição. Aumentou um pouco a eleição de mulheres e colocou a discussão sobre o tema numa posição mais central no debate público, aliada aos inúmeros progressos que elas vêm obtendo na economia e sociedade. Muitos criticam as chamadas “mulheres laranja”, expressão que define as candidatas falsas, que só constariam nas listas dos partidos para que se alcance a quota mínima de 30%. Mas a justiça eleitoral tem sido cada vez mais atenciosa com a votação delas e o direito vem destinando recursos do fundo partidário e do Fundo de Financiamento de Campanha para elas. Foram passos importantes para que sejam candidaturas mais viáveis, de fato. É um grande desafio para todos aqueles que estão de fora romper com as oligarquias partidárias.
Esta dificuldade no preenchimento das vagas demonstra os problemas na formação de candidatas que os partidos possuem. Candidatas precisam ser formadas, como em qualquer outra atividade profissional. Se temos enfermeiras, psicólogas, dentistas, advogadas ou biólogas é porque elas passaram pela construção de suas competências. Na política tem que se dar da mesma forma. Há quem diga que a elite política é o espelho do povo brasileiro. Rebato ao dizer que ela é a cara do sistema político brasileiro, ainda muito dominado por homens brancos, idosos, com sobrepeso e ricos. Ele acaba sendo um filtro para dificulta em muito o acesso de mulheres e outras minorias políticas aos cargos eletivos e nomeados.
A estratégia das vinculações de vagas nos parlamentos, nos secretariados de governo e conselhos de administração das sociedades anônimas me parece útil. Ainda que seja um instrumento transitório, é muito interessante para ampliar a presença efetiva delas nestes lugares de poder. Sou contrário às quotas no ensino superior, porque acredito que devemos buscar uma universalização do ensino de qualidade desde a educação básica. Mas no caso destes cargos me parece algo adequado, já que a participação de mulheres uma função sociológica muito importante. São redutos masculinos em vários aspectos, inclusive na forma de socialização, conversas, relacionamentos interpessoais, temas e as mulheres ainda são um “corpo estranho” em vários momentos. No caso dos conselhos de administração das empresas o número de mulheres presentes é ridículo, quando são excluídas as herdeiras. É uma bandeira de luta importante.
Mas a quem serve essa representação ampliada das mulheres? Apenas a elas? O Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB) já mapeou que as deputadas federais costumam apresentar projetos de lei tratando de políticas públicas como educação, saúde, assistência social, infância e adolescência, ciência e tecnologia, independente do posicionamento político e ideológico delas. Isto significa que a participação feminina traz maior sensibilidade para com esses temas, servindo a toda a população e não apenas a elas.
Este foi um pequeno balanço. Deixo aqui minhas congratulações a todas as mulheres do passado e presente que lutaram e continuam lutando para que a realidade colocada aqui acontecesse. Parabéns e contem com meu apoio sempre.
Vinicius de Carvalho é doutor em História e analista político comentarista da Jovem Pan Cuiabá.