POR VINÍCIUS DE CARVALHO

Impactos políticos da intervenção na saúde de Cuiabá

A intervenção do Governo do Estado na prefeitura de Cuiabá tem agitado os bastidores da política em Mato Grosso. As dificuldades de resolver os problemas operacionais e financeiros da secretaria municipal de saúde em 90 dias e a disputa Mauro x Emanuel já estão gerando debates acalorados.

A intervenção traz um componente de risco grande para Mauro Mendes, porque a situação é muito complicada e haverá dificuldade em mostrar resultados expressivos num prazo curto e muito amarrado. Por outro lado, como a situação anterior era bem complicada, qualquer ganho trazido pela interventora obterá destaque. Há boa possibilidade dessa intervenção ser prorrogada pelo Poder Judiciário, caso seu objetivo ainda não tiver sido alcançado. Os desembargadores têm sido bem complacentes com o Governo Mauro Mendes e não acredito que agora seja diferente. Lembremos que a Secretaria Municipal de Saúde foi uma das principais engrenagens na máquina política de Emanuel Pinheiro, decisiva para a eleição e reeleição de seu filho como deputado federal. Se a intervenção durar até o final do mandato, Emanuel não terá mais esta estrutura para apoiar o candidato de seu grupo ao Palácio Alencastro.

Já Mauro Mendes poderá transferir um eventual capital político para um candidato de seu grupo a prefeito. Mauro chegará a esta eleição de prefeito como o Governador em melhores condições objetivas para ajudar a eleger um quadro próximo a si. E com mais um ponto a favor de Mauro que ter sua base política em Cuiabá. Apreferência pelo deputado federal Fábio Garcia é notória, mas é uma escolha que deve passar por muita discussão dentro da coligação que reelegeu o Governador. MDB tem se movimentado para se afastar de Emanuel, sobretudo sob a liderança da deputada estadual Janaína Riva. O prefeito da capital tem pouca presença no partido e pode perder a legenda para outros grupos que queiram fortalecê-la para 2026. Eles querem ter candidatos próprios nos principais colégios eleitorais do Estado e a própria Janaína Riva é citada como uma alternativa em Cuiabá. Ela já transferiu seu domicílio eleitoral e tem toda condição de ultrapassar os 12.000 votos obtidos para deputada estadual.  

Outro aspecto interessante a ser observado foi o comportamento do deputado Lúdio Cabral. A princípio considerei que ele fosse votar contra a intervenção, mas acabou compondo a maioria e votando a favor. Com certeza predominou o cálculo político de pré-candidato a prefeito na oposição pela esquerda ao Emanuel Pinheiro. Lula reforçou o nome da ex-deputada Rosa Neide para a Prefeitura, mas Lúdio teve quase a mesma votação dela na capital e vem se posicionando como um crítico da gestão municipal e da direção do PT. Postula uma candidatura mais independente, contrariando o prefeito que já afirmou em entrevista que o candidato de Lula será do seu grupo.

Temos ainda uma das grandes peças deste jogo: o presidente da Assembleia Eduardo Botelho. Ele vem se colocando como um pré-candidato no União Brasil, concorrendo com os “maurinhos”. Mas vem sendo cortejado também pelo PSD, presidido pelo ministro Fávaro, junto com os irmãos Campos. Ele pode concorrer de um lado, de outro ou ainda como alguém independente, dependendo dos arranjos partidários que surgiram daqui até. Há ainda o grupo do deputado federal Abílio Brunini. Vejo uma  nova candidatura dele a prefeito cada vez menos provável, mas a bancada de oposição ao Emanuel tem seu peso e busca uma identificação com o eleitorado bolsonarista em Cuiabá, que teve 61,5% dos votos no segundo turno. A deputada federal Amália Barros pode ser outra alternativa. Mas muito dependerá de como caminhar a intervenção.

Vinicius de Carvalho é doutor em História e analista político da Rádio Jovem Pan Cuiabá.

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