Um acidente de trânsito envolvendo um ônibus motivou este artigo. Vou fazer um breve relato para chegar ao ponto, sem trocadilho.
Um ônibus da única empresa, há décadas, que faz o transporte público em Várzea Grande invadiu a calçada do sentido contrário ao que trafegava e atropelou um motociclista, que, por pura sorte, teve a vida preservada. A empresa divulgou nota atribuindo o acidente ao motorista que teria perdido a direção e irá investigar as causas.
O vídeo do acidente está disponível em toda a mídia, em particular aqui no PHDNEWS, um dos primeiros a noticiar o fato.
As imagens sobre o acidente são reveladoras. A exceção de um mal súbito do motorista, mesmo se fosse ele um aprendiz, não conseguiria “perder a direção” fazendo aquele trajeto, pois naquele local não há mudança de trajetória para seu itinerário. Quem tiver paciência, vendo o vídeo quadro a quadro, poderá ver nas imagens o motorista se esforçando ao volante na direção contrária, ou seja, um defeito mecânico.
E assim chegamos ao ponto; à fiscalização de faz de conta.
O poder público de Várzea Grande tratou, até aqui, o fato como acidente, aceitando a justificativa da empresa de que o culpado é o motorista.
Mas, se tivesse feito diferente, com uma investigação profunda na condição de trafegabilidade dos ônibus que servem a população da cidade, da regularidade, de pontualidade, e encontrasse algo em dissonância com o contrato firmado entre o município e a empresa? Chegaríamos onde? Na multa. Sim é esse o recurso utilizado para justificar o trabalho de fiscalização.
Não raro, vemos secretários municipais, em entrevistas, ao serem confrontados com o péssimo serviço prestado por empresas de ônibus, dizer sobre a eficácia do seu trabalho, ao ameaçar as concessionárias com notificações e multas ou revelando valores já aplicados.
Mas vamos nos deter um pouco mais sobre essa punição, a multa.
A penalização da empresa está no ato da multa ou no pagamento da mesma?
Quanto o poder público efetivamente arrecadou das multas que aplicou?
Quanto foi glosado através de descontos concedidos e acordos?
Qual o valor em atraso sem qualquer ação de cobrança do poder publico?
Ao assistir as reincidências, fica claro que compensa não cumprir com suas obrigações.
Para os que pensam não ser essa uma discussão importante, sugiro supor que a quebra da peça que fez o ônibus mudar de direção, tivesse se dado em plena rodovia dos imigrantes, local por onde ele passou minutos antes e de intenso tráfego de caminhões e carretas.
Para mim, somente o risco que os passageiros foram expostos é motivo de processo.
Está aí uma boa pauta para nossos vereadores. Mas penso que a verdade, se esperada no terminal, terá descido um ponto antes.