Pipocam-se, de todo lado, pesquisas de intenção de votos. Afinal, vive-se em ano político-eleitoral. Daí, claro, as suas feituras, bem como suas divulgações, e porção delas voltadas para o consumo interno ou de um partido, ou de um grupo político. Tem pesquisas para todos os gostos. Institutos variados. Alguns deles mais conhecidos, e outros nem tanto conhecidos assim. Pesquisa que jamais teve a aceitação de toda a população, e de todos os agentes políticos. Sempre há quem lhe atribui uma série de defeitos, ainda que não a compreenda de fato, embora se apresente como conhecedor dela. Bate-a torto e a direito, e o faz acompanhado de exemplos de eleições anteriores, quando determinados candidatos saíram-se vitoriosos, a despeito dos números da pesquisa. Vale-se disso em demasia. Porém, por vezes, ou quase sempre, tende a esconder certos dados trazidos pelos resultados obtidos. Esconde-os até para não ver a própria fala em descrédito. Para tal se vale de frases de efeito, as quais estão longe, bastante longe de estarem sustentadas de argumentação. Isso porque as ditas frases são soltas, sem qualquer amarração argumentativa, embora possuam forças de apelações, chamativas e altamente sedutoras. E, então, atraem com facilidade os ouvintes, telespectadores e leitores. Bem mais quando o candidato deste grupo aparece em um lugar distante do primeiro ou do segundo lugar nas intenções de votos.
Nenhum deles, no entanto, procura ler a respeito da metodologia aplicada, pior ainda a compreender a própria pesquisa. Nem, ao menos, se dá ao luxo de refletir sobre os índices obtidos da pesquisa. Tampouco analisa-los. Muito menos busca um ou outro especialista para pedir-lhe explicações científicas. E, no instante em que este está a falar, sequer se põe a escutá-lo. Pois escutar, ouvir e prestar atenção o obrigaria a parar, ater-se a um ponto ou a vários deles, e isso, claro, demanda tempo, além do convite ao exercício. Exercício necessário. Imprescindível. Mas, de pronto, exercício descartável. Fica mais fácil o apontar defeitos. Esta, aliás, é uma tarefa bastante fácil. Afinal, dispensa-se a reflexão, o pensar e o “queimar as pestanas”.
Não se quer, aqui, dizer que toda pesquisa é uma bíblia. E, então, deva ser aceita, sem qualquer discussão. Nem, sequer, pretende afirmar neste texto que seus números são irrefutáveis, como se eles revelassem a verdade absoluta, e estivessem longe de ser uma simples fotografia de momento específico. Tanto que se em instante posterior, com os pesquisadores a coletarem dados em iguais áreas, os números revelados fossem os mesmos do anterior. Claro que não serão.
Por outro lado, uma pesquisa, ainda que baseada em uma dada metodologia, sob a égide da legalidade, registrada na Justiça Eleitoral, pode sim ser manipulada, em especial quando já se conhece as áreas populacionais em que um dado candidato tem maior aceitação, ou rejeição. Pula-as ou intensificam as pesquisas nas ditas áreas, cuja amostra, ainda que camuflada, ou registrada como se fosse de áreas distintas. Detalhes importantes, e que devem ser ditos sempre. Até para que o eleitorado venha saber deles. E, ao tomar ciência, passe a olhar cuidadosamente aos índices de intenção de votos, bem como os de rejeição. Estes, aliás, são bem mais importantes que aqueles, uma vez que revelam a possibilidade ou não de crescimento dos candidatos à chefia do Executivo estadual ou federal.
O que se está a dizer, aqui, é de que não se devam refutar as pesquisas, simplesmente por prazer ou por falta do que dizer, ou por ser do contra, ou apenas aquelas em que o candidato escolhido está distante do primeiro colocado, ou não lidera a disputa. Os dados de uma pesquisa deveriam ser temas do bate-papo nos botequins, nas conversas entre amigos, ou em volta da mesa na sala de estar, ou na área das residências. De um bom debate, pode-se tirar grande proveito, inclusive para a escolha dos candidatos. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.